29/01/2010

Minha aldeia, minha vida

Certa vez, para ajudar seus alunos a compreenderem a situação mundial, a professora norte-americana Donella Meadow lançou o seguinte desafio: e se pensássemos o mundo como uma pequena vila de apenas cem pessoas? Mais tarde, a história se transformou num pequeno artigo, que ganhou páginas de jornais no mundo todo.
Esse desafio faz lembrar o grande poeta português, Fernando Pessoa, que disse, certa feita, que aquele que quiser entender o mundo deve tentar entender sua aldeia. E antes de amar o mundo será preciso ser capaz de amar a sua própria aldeia e fazer parte dela, como cidadão do mundo.
Mas, e se o mundo fosse uma aldeia? E se o nosso planeta tivesse apenas cem pessoas? Vamos imaginar como seria a vida nessa nossa aldeia...
Das cem pessoas, metade seriam homens e metade seriam mulheres. Sessenta e um moradores seriam asiáticos e, dentre eles, 20 seriam chineses e 17 hindus. Catorze seriam africanos, 11 europeus, oito sul-americanos, seis norte-americanos e apenas uma pessoa seria procedente da Oceania. Se o mundo tivesse cem pessoas, 27 teriam menos do que 15 anos e apenas sete teriam mais do que 65 anos.
Se o mundo fosse uma aldeia de cem pessoas, 80 estariam morando em habitações precárias, 50 sofreriam problemas de desnutrição e 18 estariam passando fome. No entanto, 14 pessoas seriam obesas.
Se o nosso mundo fosse uma aldeia, 42 pessoas não teriam água em suas casas e 18 nunca beberiam água potável em toda a sua vida. Sessenta e três pessoas não teriam acesso à rede de esgoto e apenas 50 teriam condições de obter os remédios que necessitam.
Se o mundo tivesse cem pessoas, 20 seriam donas de 80% de todas as terras da aldeia e, dentre elas, apenas uma seria mulher.
Na nossa aldeia, 33 pessoas estariam vivendo em situação de conflito armado e guerra. Seis mulheres já teriam sido violentadas.
Se o mundo fosse uma aldeia de cem pessoas, 33 seriam cristãos, 20 seriam mulçumanos, 13 hinduístas, seis budistas, 14 teriam outras religiões e outras 14 não teriam religião alguma. Sessenta dessas pessoas encontrariam restrições para professar a sua fé, sendo que cinco a professariam mesmo sob risco de morte.
Se o mundo tivesse cem pessoas, 40 homens e 20 mulheres saberiam ler, escrever e fazer contas. Se essa aldeia tivesse uma biblioteca, apenas 24 pessoas a teriam freqüentado em toda a sua vida. Se tivesse um cinema, apenas uma pessoa, e sempre a mesma, assistiria aos filmes. Se o mundo fosse uma aldeia, apenas 50 pessoas teriam eletricidade em suas casas.
E se você tem uma geladeira para guardar sua comida, um armário para guardar sua roupa e uma cama para dormir, você pode ser considerado mais rico que 75% dessas pessoas.
Se o mundo fosse uma aldeia, 18 pessoas seriam totalmente analfabetas e 84 seriam analfabetos virtuais, sem acesso a computadores. Apenas três teriam acesso à Internet.
Mas 33 pessoas teriam celular e 18 teriam automóveis.
Se o mundo fosse uma aldeia, 26 pessoas seriam fumantes. Uma pessoa estaria prestes a morrer de Aids.
Se o mundo fosse uma aldeia de cem pessoas, 30 estariam desempregadas, cinco crianças trabalhariam em condições de escravidão e uma menina faria os trabalhos domésticos apenas em troca de comida, sem qualquer remuneração.
No nosso mundo-aldeia, 53 pessoas estariam sobrevivendo com menos de dois dólares por dia e 18 estariam lutando e sofrendo para sobreviver com menos de um dólar por dia.
Enquanto isso, apenas uma pessoa seria considerada rica. Essa pessoa, na verdade, seria dona de metade de toda a riqueza produzida na aldeia.
E agora, com tanta tecnologia, com o enorme fluxo de transações e de informações, podemos falar que o mundo é, de fato, uma aldeia. Esse exercício de transformá-lo numa aldeia de cem pessoas, nos permite entender melhor como vivem os seus mais de 6 bilhões de habitantes. E fazer as nossas próprias opções.
Que todos nós que temos o privilégio de conhecer o mundo, a nossa aldeia, tenhamos também a coragem de amá-lo e transformá-lo num lugar digno de nossa condição humana.
E que as próximas gerações, habitando um mundo melhor, possam se orgulhar de nossas opções e de nossas ações...
Texto de Antonio Carlos A. Lobão.
Bom caminho!

Nenhum comentário:

Postar um comentário