26/06/2015

A incapacidade de ser verdadeiro

Vamos fazer uma viagem do EU ao Nós por meio do texto A incapacidade de ser verdadeiro, de Carlos Drummond de Andrade, interpretado por Antonio Abujamra.


Paulo tinha fama de mentiroso.
Um dia chegou em casa dizendo que vira
no campo dois dragões da independência
cuspindo fogo e lendo fotonovelas.

A mãe botou-o de castigo,
mas na semana seguinte
ele veio contando que caíra no pátio da escola
um pedaço de lua,
todo cheio de buraquinhos,
feito queijo,
e ele provou
e tinha gosto de queijo.

Desta vez Paulo não só ficou sem sobremesa
como foi proibido de jogar futebol
durante quinze dias.

Quando o menino voltou
falando que todas as borboletas da Terra
passaram pela chácara de Siá Elpídia
e queriam formar um tapete voador
para transportá-lo ao sétimo céu,
a mãe decidiu levá-lo ao médico.

Após o exame,
o Dr. Epaminondas abanou a cabeça:
- Não há nada a fazer, Dona Coló.
Este menino é mesmo um caso de poesia.

12/06/2015

Mude, mas comece...

Vamos fazer a viagem do EU a Nós por meio do texto Mude, mas comece... de Edson Marques interpretado pelo Antonio Abujamra.
Mude, mas comece devagar,
porque a direção é mais importante
que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.

Quando sair,
procure andar pelo outro lado da rua.
Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas,
calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde
você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os teus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira
para passear livremente na praia,
ou no parque,
e ouvir o canto dos passarinhos.

Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas
e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama…
depois, procure dormir em outras camas.

Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais…
leia outros livros,
Viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.

Aprenda uma palavra nova por dia
numa outra língua.
Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
o novo lado,
o novo método,
o novo sabor,
o novo jeito,
o novo prazer,
o novo amor.
a nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado…
outra marca de sabonete,
outro creme dental…
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.

Ame muito,
cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira,
de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros,
outros teatros,
visite novos museus.

Se você não encontrar razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer uma viagem
despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.

Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.

O mais importante é a mudança,
o movimento,
o dinamismo,
a energia.
Só o que está morto não muda !

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco, sem o qual a vida não
vale a pena!!!!

05/06/2015

Formas de ver....

Vamos fazer uma viagem do EU ao Nós por meio da poesia de Ana Paula Rovere intitulada Formas de ver...:


Vivendo e caminhando sempre,
Atenta ao dia a dia
Tenho aprendido muito
Ao contemplar fotografias

Com um bom equipamento,
E, uma vez a técnica adquirida,
Sai por aí o fotógrafo
Observando e registrando "a vida"

Fotos lindas, com certeza,
Surgirão aos milhares
Mas a versão por trás delas
Dependerá dos diferentes olhares...

O que vê e pensa o fotógrafo
Quando faz o seu registro,
Simplesmente a cena montada
Ou enxerga muito além disso?

E nós ao vermos a foto,
Qual a nossa interpretação?...
O q entendemos,quais cores e formas vemos .....
O que nos chama mais a atenção?

O que quero dizer realmente
É bem simples de entender
Não existe ,em qualquer coisa q seja,
Somente uma maneira de ver

A cena registrada era o que era
Simplesmente estava lá,
Daquela maneira, naquele momento
Mas a interpretação por trás dela
Provém de nossa cultura,nosso arquivo próprio...
E nos leva a um julgamento....

Na vida, bem como acontece c a foto,
Somos tendenciosos a pré julgar....
Tudo, todos, os acontecimentos
Com a impressão do primeiro olhar

Crescer é um exercício
Ao qual precisamos nos render
Então não pré julgue, não acuse,
Não sofra nem faça sofrer

Seja feliz, torne a vida mais leve
Viva e deixe viver
Não perca tempo sentenciando
Mude, adapte, liberte
Expanda sua forma de ver....